segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Efeito dominó da educação



Semana passada eu declarei aqui meu amor por minha cidade e revelei o quanto tenho estado triste com as cenas de descaso que venho encontrando por aí. Esta semana vou falar de outra coisa negativa que tem chamado minha atenção no meu retorno à Salvador. A crescente falta de educação do soteropolitano.

Antes de eu começar, deixa eu esclarecer uma coisa. Pra quem ainda não sabe, eu vou repetir algo que não canso de dizer: Eu amo Salvador. Uma cidade não é composta apenas de suas belezas naturais e arquitetônicas. Boa parte do que faz uma cidade ser o que é, são seus habitantes, então eu adoro meus conterrâneos também. 

Nós soteropolitanos, temos um jeito de falar gostoso, somos muito engraçados, muitas vezes até sem querer. Somos barulhentos, criativos, cheios de charme e cheios de vida. Somos carinhosos e temos formas bem peculiares de demonstrar nosso afeto e senso de humor através de nosso dialeto. Enfim, o soteropolitano é show e eu adoro fazer parte desse grupo. O que eu não gosto é de perceber que nossas boas qualidades tem ficado cada vez mais guardadinhas num cantinho bem secreto e nosso lado sombra anda a solta pela cidade.

Tenho ficado chocada com as cenas de mais pura rudeza com as quais tenho me deparado por Salvador. Outro dia fui ao banco com minha mãe, que tem necessidades especiais. A fila preferencial estava longa, mas tinha cadeiras suficientes para todos. Quer dizer, teria se uma senhora não estivesse sentada em duas cadeiras. Infelizmente idade avançada não isenta a pessoa da falta de educação e a tal senhora não só se recusou a se sentar em uma cadeira apenas, como começou uma briga com quem questionou sua atitude.

Tinha ido em uma loja que ficava em uma rua sem saída. Quem estaciona na frente dessa loja tem de sair de ré, porque a rua é apertada e não há espaço suficiente para fazer manobras. Até aí tudo bem, nessa rua só tem essa loja mesmo e quem vai lá sabe disso. O único problema é quando o cara do carro da frente se recusa a entender que para ele sair mais rápido, o mais lógico é esperar que o carro que está atrás dele saia primeiro. Estavamos todos lá, uma fila de carros, tentando sair ordeiramente, respeitando o princípio primeiro o que está mais próximo da saída e assim sucessivamente, quando o apressadinho da minha frente, decide que a necessidade dele de sair daquele lugar é maior do que a todas as outras pessoas e vai saindo simultaneamente, criando assim uma fila dupla apertadíssima e inúmeras situações de susto, raiva e aperto pros outros motoristas. Fiquei sem palavras, ao que minha mãe me relembra, "Melhor ficar sem palavras mesmo. Hoje em dia as pessoas sacam armas e atiram nas outras por qualquer desentendimentozinho no trânsito". Lamentável, mas verdade.

Faz três semanas que eu estou de volta e nesse pouquíssimo tempo já presenciei dezenas de situações de indelicadeza que fizeram meus cabelos arrepiarem. É um festival de pessoas jogando latinha de cerveja pela janela do carro em movimento, correndo com o carrinho de supermercado cortando pessoas e atropelando quem vem pela frente pra chegar antes na fila, se aproveitando que alguém está segurando a porta da loja aberta e entrando rapidinho sem nem olhar pra cara da pessoa que segurou a porta ou dizer um obrigado. A lista da falta de consideração com o próximo é imensa e me enche de tristeza e vergonha alheia. Aliás, nem sei se posso chamar de vergonha alheia, já que eu faço parte desta cidade.

Resolvi me tornar uma pessoa extremamente atenta. Estou fazendo questão de ser ainda mais cordial, paciente e sensível no meu trato com as pessoas que encontro por aí, na esperança de que minha atitude crie uma espécie de efeito dominó e talvéz quem sabe um dia, uma mudança de atitude nessa cidade.

Mas aí deve ter gente que vai pensar "Quem ela pensa que é pra achar que vai mudar uma cidade?" Né bem por aí, não viu galera. Eu sei que eu sou apenas uma pessoa bem normal. Mas é que eu acredito que todas nós pessoas normais temos o poder de mudar o mundo de pouquinho em pouquinho em pequenos gestos nada fora do comum. 

O que eu vou dizer agora é bem cliché, mas como a gente tende a esquecer não custa nada repetir. Se eu conseguir ser gentil com uma pessoa que eu encontrar no meu dia, pode ser que essa pessoa trate o próximo que encontrar da mesma forma, afinal gentileza é bom e todo mundo gosta não é mesmo? Imagine aí: eu sou gentil com você, que é gentil com seu vizinho, que é gentil com a vendedora da loja e assim por diante até que essa onda de gentileza se espalhe pela cidade inteira. Impossível? Né nada! eu começo daqui, você começa daí e a gente vê.

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